Carne em excesso faz mal à saúde e ao planeta

Em outubro de 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a carne processada na lista de produtos carcinogênicos, ao lado do tabaco. Além disto, o consumo de carne vermelha é agora considerado como “provável fator de risco”. Em meio a esta polêmica, existe o fato de que a criação de gado e as imensas áreas de pastagem demandadas por bois, porcos, cabritos e outros menos cotados na mesa brasileira prejudica o equilíbrio ambiental.

Em toda esta discussão, um ponto já é sabido: todo excesso faz mal à saúde. além disto, desestabiliza a capacidade de regeneração do meio ambiente e prejudica também o planeta. A pecuária demanda terras, água, rações e medicamentos industrializados – e tudo isto gera um impacto que, se não for rapidamente equacionado, poderá provocar danos permanentes ao planeta.

Em 2015, foram necessários apenas oito meses para que a humanidade consumisse todos os recursos naturais que o planeta disponibiliza em um ano. A data é marcada como “Dia da Sobrecarga da Terra” que, neste ano, caiu em 13 de agosto. O cálculo é feito desde 2000 pela Global Footprint Network, ONG associada à World Wide Fund for Nature (WWF).

O que fazer?

Em primeiro lugar, é necessário “comer para viver”, e não “viver para comer”. Nutricionistas indicam a ingestão de uma porção de carne vermelha equivalente à palma da mão sem os dedos. Preferencialmente, o alimento deve ser alternado com peixes e aves, que, mesmo quando criados em cativeiro, oferecem impacto ambiental negativo menor.

Cortar o “churrasco nosso do fim de semana” pode ajudar a combater a seca que assola as regiões Sudeste e Centro-Oeste do país há quase dois anos. Não acender as brasas sob a grelha também contribui para reduzir o derretimento das calotas polares.

Ao menos, é isto que sugere um estudo do Chatham House, o Instituto Real de Assuntos Internacionais, da Inglaterra. O estudo, batizado de “Changing Climate, Changing Diets” (mudanças de clima, mudanças na dieta), foi publicado no final de novembro de 2015, mas chega a uma conclusão pessimista: até 2050, o consumo de carne, que já é o dobro do indicado pelos especialistas, deve conhecer um aumento de 76%.

Malefícios do excesso no consumo de carne

Os mães do consumo em excesso de carne não se limitam às já graves obstruções de artérias, com o consequente aumento de infartos do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais e outras doenças cardiovasculares.

Em uma dieta sustentável, o consumo moderado de carne vermelha poderia contribuir com um quarto da meta global da emissão de gases causadores do efeito estufa. Qual a relação entre carne vermelha e gases? Vacas & Cia. soltam muitos flatos (os populares puns) durante o dia todo, do nascimento ao abate.

Atualmente, estes gases respondem por 15% das emissões globais dos gases do efeito estufa e, no Brasil, de acordo com projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) este número pode ultrapassar os 50%.

Estes flatos são constituídos basicamente por gás metano, originados pela digestão dos animais, que, juntamente com o dióxido de carbono (gás carbônico) emitido pelas chaminés e escapamentos dos veículos, são os responsáveis pela absorção de parte dos raios ultravioleta emitidos pelo Sol, impedindo que esta radiação seja liberada para o espaço e provocando aumento da temperatura terrestre.

Outro problema determinado pelo aumento da atividade agropecuária, de corte ou de leite: a abertura de pastagens para que os animais possam se exercitar e complementar a alimentação, maciçamente constituída por ração balanceada.

Além da redução das reservas florestais (leia-se desmatamento), os campos (inclusive agrícolas) demandam fertilizantes, defensivos e outros produtos sintéticos, que contaminam o solo e contribuem para a emissão de gases.

Consumo de carne

Os principais consumidores de carne vermelha são os países desenvolvidos (pouco tempo depois da edição do Plano Real, em 1994, durante o governo Itamar Franco, as autoridades econômicas brasileiras se gabavam de que a população estava comendo mais frango).

A população global não pode imitar os padrões de consumo dos “primos ricos”, mesmo porque isto significa abrir mão de tradições seculares e mesmo da identidade étnica. No entanto, é exatamente isto que vem ocorrendo.

Países em desenvolvimento, como os que formam o BRICS (bloco econômico constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estão verificando um aumento exponencial no consumo de carne vermelha, especialmente dos embutidos, os mesmos considerados como cancerígenos pela OMS.

Os prejuízos sociais e econômicos são mensuráveis: aumento dos gastos com saúde pública (com ampliação de internações e procedimentos clínicos, laboratoriais e cirúrgicos), desenvolvimento de doenças crônicas, ampliação das ausências no trabalho, além dos danos para o planeta.

Trata-se de uma situação insustentável em um prazo muitíssimo curto, especialmente quando consideramos que a população da Terra já beira os sete bilhões de habitantes, número ainda não superado por fatores que não deveriam existir: guerras, epidemias, etc.

Opção: vegetarianismo

O vegetarianismo é uma dieta viável e perfeitamente compatível com as necessidades humanas. No entanto, ninguém está propondo que bois, bodes e porcos sejam devolvidos à natureza selvagem. Da mesma forma, não chegamos (ainda) ao ponto de considerar a adoção de insetos para suprir as nossas necessidades proteicas.

Entre as medidas propostas pela Chatham House, estão as políticas para expandir a oferta de alimentos saudáveis (inclusive em escolas e creches), mudanças nos cardápios sem prejuízo da satisfação das necessidades nutricionais e uma questão bastante polêmica: o fim dos subsídios para os produtores de carne.

O importante é que a população tenha acesso a informações nutricionais e possa escolher, entre as diversas opções, a mais adequada para o seu estilo de vida. Os males provocados pelo excesso de carne vermelha podem ser conhecidos pelas camadas mais bem informadas da sociedade, mas são uma “caixa preta” para a maioria dos terráqueos.

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