Adesivos e chicletes de nicotina: funcionam?

Mais de 10% dos brasileiros são fumantes, segundo dados do Ministério da Saúde. Este número já foi pior: em 1980, um em cada quatro adultos fumava – uma redução de 15 pontos percentuais em pouco menos de 40 anos. Cada vez mais gente tenta parar de fumar e muitos recorrem a adesivos e chicletes de nicotina. Mas será que eles realmente funcionam?

A nicotina é a responsável pela dependência física do fumante. A nicotina inalada é absorvida pela corrente sanguínea e leva menos de dez segundos para chegar ao sistema nervoso central, que libera alguns neurotransmissores responsáveis pelas sensações de tranquilidade e bem-estar. Por isto, o tabagista sente a compulsão de acender outro cigarro para manter esta condição.

Os adesivos e chiclete de nicotina fornecem uma quantidade mínima desta substância, reduzindo o desejo de fumar. Desta forma, o fumante que está tentando parar de fumar fica menos ansioso, mesmo com a redução da quantidade de cigarros a cada dia.

Vale lembrar, no entanto, que não existem níveis seguros para o consumo da substância: quem usa adesivos e chicletes de nicotina está absorvendo um produto tóxico e, com isto, expondo-se aos mesmos riscos inerentes ao tabagismo.

O tratamento

A terapia de reposição da nicotina (TRN) fornece ao paciente uma quantidade de nicotina por um curto período, eliminando os perigos de outras substâncias do cigarro, como o monóxido de carbono e o alcatrão. Isto ajuda a reduzir as crises de abstinência. O teor de nicotina dos adesivos e chicletes vai sendo diminuído gradativamente.

Os adesivos de nicotina têm se mostrado mais eficazes no tratamento contra o tabagismo, porque o paciente não é o responsável pela dosagem: é aplicado um adesivo de 7, 14 ou 21 mg, sobre a pele em qualquer parte do corpo, que libera a nicotina durante 24 horas sem interrupções. O pico de absorção se concentra entre quatro e nove horas do contato com a pele e o tratamento pode se prolongar por até 12 semanas.

Os chicletes de nicotina, ao contrário, estão sempre à mão, o que pode levar à troca de compulsões: em vez do cigarro, o fumante se rende à goma de mascar e continua ingerindo uma quantidade alta da substância, com os perigos inerentes à saúde.

Por outo lado, os chicletes de nicotina (com 2 ou 4 mg por unidade) são muito procurados por quem está tentando parar de fumar especialmente nos momentos de maior fissura (desejo compulsivo). Os chicletes também ajudam por serem orais, da mesma forma que os cigarros.

Ao contrário dos chicletes comuns, o chiclete de nicotina deve ser mascado com bastante força, especialmente no início, até que o paciente sinta o gosto da substância. Depois disto, baixa deixar a goma entre a gengiva e a lateral da bochecha até que o sabor desapareça (isto ocorre geralmente em 30 minutos).

O motivo do método é simples: a nicotina é mais bem absorvida na boca do que no sistema digestório. Além disto, quando a substância é absorvida no intestino, parte dela é metabolizada pelo fígado, não atingindo o sistema nervoso central.

É importante não beber água enquanto os chicletes estiverem na boca. Não é recomendável utilizá-los depois das sempre possíveis recaídas. Usar os chicletes juntamente com os cigarros pode levar a uma intoxicação por nicotina, caracterizada por tremores, cianose (surgimento de um tom azulado na pele e nas mucosas). Em casos muito graves, pode ocorrer paralisia dos músculos respiratórios.

Indicações

A TRN é indicada para fumantes com alta dependência. Os pacientes são avaliados através do teste de Fagerström, um questionário específico com seis perguntas, oferecido gratuitamente em diversos sites. Os fumantes recebem um nota de zero (dependência muito baixa) a dez (muito elevada).

Os adesivos de nicotina devem ser colocados em qualquer área da pele que não tenha pelos. O local não pode sofrer exposição ao sol. Os adesivos podem ser mantidos por 24 horas, mas é mais recomendável retirá-los durante o repouso noturno, a menos que o paciente desperte durante a noite para fumar.

Para fumantes com alta pontuação no teste de Fagerström (nove ou dez), a dosagem dos adesivos indicada é a seguinte:

• primeiras quatro semanas: adesivo de 21 mg;

• quatro semanas intermediárias: adesivo de 14 mg;

• últimas quatro semanas: adesivo de 7 mg.

Os avaliados com dependência média podem fazer o tratamento em oito semanas:

• primeiras quatro semanas: adesivo de 14 mg;

• últimas quatro semanas: adesivo de 7 mg.

Para quem prefere usar os chicletes, a dosagem é a seguinte:

• primeiras quatro semanas: uma goma (4 mg) e cada duas horas;

• quatro semanas intermediárias: uma goma (2 mg) a cada quatro horas;

• últimas quatro semanas: uma goma (2 mg) a cada oito horas.

Para aumentar as chances de sucesso, a TRN deve ser acompanhada por um médico, que poderá alterar as dosagens de acordo com o histórico de cada fumante.

Vantagens e desvantagens

• Qualquer TRN tem como vantagem principal a reposição apenas da nicotina, poupando o ex-fumante de entrar em contato com as demais substâncias nocivas do cigarro.

• De acordo com diversos estudos, os adesivos e chicletes de nicotina não apresentam risco de causar dependência aos pacientes.

• Em casos raros (1%, em alguns ensaios clínicos), os adesivos de nicotina provocaram alergias de pele.

• De acordo com a Colaboração Cochrane, da Inglaterra (uma ONG que revisa estudos médicos periodicamente), pacientes tratados com adesivos e chicletes apresentam três vezes mais possibilidades de parar de fumar do que os voluntários submetidos apenas a um efeito placebo.

• Uma desvantagem dos chicletes de nicotina é que eles não apresentam efeito contínuo: a vontade de fumar volta depois de determinado período.

• Os chicletes podem provocar náuseas e irritações na mucosa da boca.

Conclusão

Os adesivos de nicotina podem ser utilizados juntamente com os chicletes, para potencializar os efeitos e aumentar as chances de parar de fumar.

No entanto, a principal arma para quem quer abandonar o cigarro é a força de vontade. A dependência não é apenas física, mas também psicológica. Apesar das substâncias tóxicas, o fumo é uma espécie de companheiro para todas as horas. Fumar acalma e relaxa as tensões.

O ato de fumar é um reflexo condicionado. As pessoas fumam porque associam o cigarro a determinadas situações, como depois de um café, na cerveja com os amigos, depois das refeições, etc.

Desta forma, a decisão de parar de fumar exige que o indivíduo reaprenda a viver. Nos primeiros dias, a fissura pode causar irritação e estresse, mas os benefícios compensam o esforço. Os chicletes e adesivos funcionam ajudando com quantidades mínimas de nicotina. Eles são uma estratégia extra para o desafio de deixar o tabagismo.

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