O poder do cochilo

Alguns minutos de sono durante o dia aumentam a capacidade cognitiva. Conheça o poder do cochilo.

Os espanhóis, entre outros povos, conhecem há muito o poder do cochilo. Depois do almoço, os bancos, fábricas e comércios baixam as portas por cerca de 20 minutos, para que empregadores possa descansar. Isto aumenta a produtividade e o bem-estar no ambiente de trabalho. Algumas empresas mantêm alojamentos coletivos para a “siesta”.

No Brasil, as sonecas são mal vistas por muitas pessoas. Os motivos são mais variados. Entre eles, destaca-se o mito de que os cochilos são reservados para os preguiçosos. Somente um terço dos brasileiros tem este hábito, extremamente saudável: uma soneca breve melhora o estado de alerta, a atenção, a concentração, a identificação de símbolos, a memória, e até mesmo a criatividade.

Além disto, com os cochilos, o tempo de reação também é reduzido e o controle do peso corporal fica mais fácil. O que as pesquisas indicam é que um em cada três habitantes da Terra não está dormindo o necessário para se refazer dos desgastes.

Em geral, insistimos muito em lutar contra o sono. Mesmo exaustos, tentamos empurrar um pouco mais com a barriga o corpo e a mente. Isto, no entanto, é contraproducente: de nada adianta ficar com os olhos fixos em um texto ou planilha, se a atenção está completamente dispersa. Excessos de cafezinhos e energéticos apenas mascaram o cansaço.

Na verdade, a falta dos cochilos diários da humanidade segue na contramão da estratégia de defesa adotada por 85% dos demais mamíferos, que dormem por pequenos períodos diversas vezes por dia. Os cientistas ainda não sabem dizer com certeza se homens e mulheres realmente apresenta sono monofásico ou se esta foi uma exigência da nossa estrutura sociopolítica.

Sara Mednick, professora do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), publicou o livro “Take a Nap” (tire um cochilo, ainda sem tradução para o português). As pesquisas de Mednick foram concludentes: um cochilo diário é capaz de proporcionar um ganho energético que combate o cansaço pelo restante do dia. As pessoas ficam mais vigilantes e a sonolência só volta a surgir no horário do repouso noturno.

Mais lendas e verdades

Existe uma falsa crença, segundo a qual quem dorme depois do almoço acaba ficando “estragado” pelo restante do dia. A sensação de acordar zonzo é real (o nome técnico é inércia do sono), mas não é comum a todos os indivíduos. O cochilo, para ser benéfico, não pode ultrapassar os 30 minutos. Depois deste limite, entramos na fase imediatamente posterior à de fixação de aprendizados e memórias: o sono profundo, na qual o despertar se torna mais difícil.

Poucas empresas brasileiras já admitem o poder do cochilo. Em tais ambientes, não é recomendável tirar uma soneca sentado na escrivaninha, bem à frente do chefe. Muitos empresários, no entanto, já conseguiram entender que o descanso faz os empregados renderem mais.

Nos demais casos, sempre é possível acomodar-se em um banco de praça para garantir o repouso no intervalo dedicado ao almoço.

Muitos profissionais entendem que precisam atender às atividades agendadas antes de se dar ao luxo de um cochilo. Isto é um fato, mas é mais provável, porém, que as tarefas sejam cumpridas com mais agilidade depois da soneca, que ajuda a revigorar e a combater o desgaste.

Outra verdade que parece um contrassenso: tomar uma xícara de café (ou chá cafeinado) antes do cochilo melhora os resultados. A cafeína presente nestas bebidas começa a fazer efeito, em média, meia hora depois da ingestão. Ao despertar, o organismo e a mente estarão fortalecidos.

Os cochilos devem se tornar parte da rotina. Devem ser diários e preferencialmente desfrutados sempre nos mesmos horários, entre 12h e 15h. Uma regra básica é que as sonecas não ultrapassem os 40 minutos, para que não provoquem sonolência no restante do dia.

Os estudos

O poder do cochilo é ampliado quando o indivíduo consegue entrar na fase REM do sono (a sigla significa Rapid Eye Movement, ou movimento rápido dos olhos, indicativo do sonho). A conclusão é de médicos da Universidade Harvard, dos EUA.

Já está comprovado que as sonecas regulares ajudam a prevenir contra problemas cardíacos, porque elas ajudam a combater os efeitos nocivos do estresse. O poder do cochilo restaura a capacidade da memória recente e remota em até cinco vezes.

O estudo reuniu voluntários e propôs um jogo eletrônico, no qual era preciso guiar-se por um labirinto até atingir uma árvore. Os que conseguiram dormir e sonhar entre as atividades fizeram o caminho 30% mais rapidamente dos privados do descanso. Alguns narraram ter sonha com a música do game.

Os pesquisadores acreditam que o cérebro continua trabalhando, apesar de em outros níveis e maneiras. Os sonhos indicam que o SNC continua procurando respostas para situações simples e complexas. As associações obtidas são utilizadas posteriormente para a resolução dos problemas.

Na Universidade de Saarland (Alemanha), um grupo de pesquisadores conduziu um experimento com estudantes universitários, que deveriam memorizar 90 palavras isoladas e 120 pares desconexos. Metade do grupo tirou um cochilo de 45 minutos; os demais ficaram assistindo a DVDs. O desempenho dos que tiraram um cochilo apresentaram desempenho melhor no segundo teste, fato que também demonstra a capacidade de aprendizado durante o sono.

Isto é útil para estudos de quaisquer áreas. Um cochilo depois de longos períodos de aulas, exercícios e pesquisas escolares e acadêmicas obriga o cérebro a continuar procurando formas de fixar o aprendizado. Os sonhos fazem parte do processo de memorização dos seres humanos.

Não é necessário que as pessoas consigam relatar a experiência vivenciada durante o repouso, já que só conseguimos nos recordar de 10% a 15% dos nossos sonhos – e todos nós sonhamos, com exceção de alguns portadores de distúrbios psiquiátricos.

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